Manifesto Orgânico

Over the last two years I have been working on my master’s thesis ”Technological Society and the Diverse Brazilian contemporary visual art: Nature, Modernity and the 2020 Years” at UNICAMP, at the same time as working on the series of artworks ”Prologues for Organic Observations” from 2023.

Many activists had already warned me that we should not forget our roots (or stars) when immersed in the rigorous research environment. And so, I never did. On the contrary, it was in the swims between knowledge, practices and their applications, that after the thesis, and after the exhibitions of the Prologues, that what comes after the prologue, flourishes again, annually, as presented in the previous years as well. This manifesto is contained within the thesis itself, as well as within other longer writings that I will share with you audience in 2024. As a queer person, environmental activist and listener of Brazilian public hearings, and above all, a contemporary artist, I share a little of my thoughts, in some languages. I’m talking about the ”Organic Manifesto” synthesized in 2024, the result of writings from 2023. The PDF version is, as always, free and available at academia.edu.

The Organic Manifesto is originally written in Brazilian Portuguese, inspired by Donna Haraway’s cyborg manifesto and the Dada and Surrealist manifesto of the last century. I am an avid reader of the writings of the avant-garde and I believe that there is a true visceral potential in our texts even in the 21st century – with new digital contexts and old global issues returning to be properly addressed, in yet another artistic and civil attempt at resistance to old paradigms.

The original ”Organic Manifesto” was translated by me in 2024 into French, Spanish, German and English – on the current page you will find a versão original em Português do Brasil, die deutsche Version, la version française and the english version. If you, the reader, are a speaker of another language and wish to translate these texts into other languages, please feel free to do so. I am still a mere student of Mandarin and Japanese, I would not feel the confidence to translate this text beyond the languages I have already translated, all of which are Western. I regret such a limitation to the Eastern public, so I express my thanks here to any translations that emerge from the texts shared with you.

Versão Original em Português Brasileiro

Manifesto Orgânico

Escrito por  Vannie Aurin Pavelski da Gama, 2024.

Dominar a natureza. Essa premissa faz parte dos fundamentos, ora explícito e ora implícito da modernidade. Qualquer aproximação entre ser humano e natureza é primitiva, espiritual – e por tanto, falsa – ou de cunho romântico da virgem mãe-natureza. Esta por sua vez, é apresentada enquanto mais uma entidade feminina encarcerada e subjugada por sua rebeldia. Tal perspectiva imposta de natureza, se reflete em nossa criação urbana. Nos meios urbanos, somos condicionados a indiferença à natureza e a sensibilidade. Arrancam-se plantas das ruas, são destruídas – ou podadas – árvores centenárias em vias públicas, que atrapalham a caminhada movimentada na cidade. Mesmo dentro de nossa própria espécie, se ignoram pessoas em situações vulneráveis, desviando a atenção de suas existências para ocupar-nos de algo dito como útil – uma continuidade das dominações de classes como da dominação das naturezas. Recolhemos as folhas dessas árvores e as jogamos em lixos, sem nem mesmo lhes dar a opção do apodrecimento que retorne ao solo. Para os lixos se vão  também flores inúteis, quando não mais esbeltas aos sentidos humanos, quando ofendem a limpeza estéril das avenidas e calçadas.
Parte da arquitetura da cidade é orientada ao afastamento dos aparentes incômodos da natureza, como no adicionar de tecnologias aos prédios a fim de evitar o refúgio de pássaros em seus vãos, esteticamente característicos de algum espaço-tempo da geografia urbana – Não lhes permitimos adaptação, apenas a empurrada extinção. Espantamos os pequenos animais, que, contrária a obsessão à higiene dum bom ser humano, dum homem, devem ser, geralmente, evitados por serem perigosos, afinal, não estão esterilizados e carregam doenças. Evitados, erradicados, segregados. Seres imundos que, salve quando nossos escravos, talvez, possam se adaptar, quando bem domesticados, ao cenário moderno. Se bestializam pessoas, se bestializam animais.  
Até qual ponto da existência da biosfera podemos forçar tamanhas grades da modernidade? Neoimperialismos, neocolonialismos, ‘trabalhos análogos à escravidão’,– A escravidão moderna – , violência posta enquanto hierarquia de necropolítica entre povos, etnias, gêneros e sexualidades, crises ambientais postas enquanto secundárias por novos territórios a serem explorados, petróleo sugado das veias do tempo terrestre, enquanto queimamos em sua superfície. Os avisos da ciência, da arte e das resistências sociais são comédia frustrada para os olhos do capitalismo carbonífero, das estruturas remanescentes dos interesses das velhas guerras, em ruínas. A prostração diante da necessidade da mudança sistêmica das sociedades humanas frente a si mesma, e consequentemente as naturezas, as políticas, ao que cria e que convive como as tecnologias e a cultura, deve continuar a ser substituída pela ação coletiva, que prossegue  fundante dos movimentos filosóficos, artísticos, ativistas e ambientais da história moderna. Nas ‘massas urbanas’ e nas massas das florestanias, nas massas rurais e nas massas digitais, damos forma a terra de carne que pode, enfim, compor a esfera de um futuro viável, que sustente o que é sustentável ao invés de arcaicas estruturas fincadas na manutenção das desigualdades sociais favoráveis a economia estrita aos interesses lucrativos de grandes empresas e Estados belicistas.    
Pensemos novamente na questão da natureza, desta biosfera que compomos e com ela, a modernidade e suas hegemônicas tecnologias. Encontramos aqui um binômio que constitui conhecimentos ora deterministas tecnológicos, ora ficcionais de uma natureza romântica e imaculada, criando um ambiente de desnecessária tensão entre nós, das sociedades humanas e nossas criações, e a comunidade ecológica de centenas de milhares de espécies. Cria-se e reforça-se um iluminismo da divina humanidade. Deste mito já colhemos problemas suficientes para resolver em conjunto.
Aproximarmo-nos da natureza não nos deslegitima enquanto seres humanos. Fazer parte do processo da natureza não inferioriza as tecnologias, ainda que lhes tire autonomia. Não perpetuar binômios entre Natureza e Tecnologia e, mais a frente de seu caleidoscópio, da relação Natureza e Cultura, não retrocede nem tecnologia nem cultura. Mas, certamente, olhar para tais possibilidades requer abandonar o domínio do Homem como medida afirmativa de seu poder sobre qualquer coisa que julgar recurso por direito. E isto, não é um movimento inventivo, tão pouco contraintuitivo ou desumano para centenas de milhares de pessoas que em suas diversas áreas de vivência, de pesquisa, de criação e de ação, se relacionam com estes binômios com afetividade, responsabilidade e legitimidade mútuas. Realizadas tais considerações, podemos reescrever o início deste manifesto.  
Viver em naturezas. Essa experiência faz parte dos fundamentos, ora explícita e ora implícita das maneiras de viver possíveis num Sul-Global e em outras sociedades, tradicionais ou não, urbanas ou não. Qualquer aproximação entre ser humano e natureza é evidente: vivemos sob leis naturais em comunidade e em ambiente. Relação esta que, muitas vezes, se expande para espiritualidades ancestrais, porém, esta relação não é obrigatória para a vivência em naturezas. É desconsiderado o cunho romântico da virgem mãe-natureza; Gaia é irreverente. O equilíbrio em um ecossistema é feito de ciclos de vida e morte, de interesses individuais e coletivos, de dinâmicas de violências, perdas e controles, e de simbioses, de dependências mútuas, de mistérios e obscuridades, aparentes aleatoriedades e algumas catástrofes. A modernidade prossegue em seu contínuo caráter expansionista de modernização, da expansão absoluta da industrialização, porém, estas automações devem ser revisitadas e questionadas, ao invés de continuamente impostas por meio de políticas conservadoras de um capitalismo carbonífero.
Antes de perturbarmos um ecossistema pela exploração e higienização das espécies, lembremos: Árvores são seres necessários, complexos, a contragosto de muitos botânicos e dum planejamento urbano falho. A madeira, conjunto ao fogo e a roda, são louros carregados ao paleotécnico e, assim, corpo, não mais ser, é material bruto da modernidade. Privamos qualquer regeneração da natureza de fauna e flora que não nos seja rentável. Consumistas viciados, usuários, recolhemos as folhas dessas árvores e as jogamos em lixos, bem como suas flores que jamais poderão se decompor no solo e retornar aos diversos ciclos de qual faz parte. Não alimentará a microfauna, afinal, não é de nossa cultura compreender quaisquer fenômenos diferentes daqueles que nos alimentam diretamente em nossas necessidades criadas por gigantes corporações – estas, que mantém trabalhos escravos ao redor do mundo, mantendo assim preços baixos para o consumo de algo com vida útil curta, porém pouco reutilizável, ou mesmo nada reutilizável. No manual de árvores brasileiras de Lorenzi (1992), resultado de uma década de pesquisa, com registro de 352 espécies de árvores, logo em seu prefácio, se dirige a nós ao conteúdo do livro, que ainda que taxonômico, é ‘’um livro de árvores é um livro de poesia. Para compreendê-lo é preciso ouvir os poetas que as veem, ouvem e sentem por sentidos misteriosos e ocultos’’. Então, por que as flores mortas seriam úteis?
Ao caso das plantas, das árvores, flores e suas sementes, retomemos a introdução de Lorenzi (1992), sem numeração das páginas anteriores ao conteúdo cirúrgico e sistemático seguinte, refere o estudos das árvores como importantes para a questão histórica social do território brasileiro; para a ecologia, visto tanto da questão da flora arbórea brasileira enquanto sendo a mais diversa do mundo – e assim, guardando complexas relações ecológicas em seus biomas de origem – quanto pela conscientização ecológica gerada por estudos da flora nativa, como da importância das florestas e matas para a compreensão das dinâmicas e processos hidrogeológicas do continente; para a economia no Brasil; e por fim, importante para a questão e história cultural brasileira, visto a relação da sociedade com as plantas cultivadas em ruas, praças, jardins e zona rural, além do aprendizado gerado com elas, das dinâmicas que se criam entre nós e as árvores, com populações e comunidades não humanas, como da importância das árvores para a avifauna brasileira – para as milhares de espécies de aves do Brasil.
Tecnologia é oposta a natureza? Tecnologia é ápice do progresso da humanidade, enquanto a natureza é sacra, e deve ser submetida ao homem – pesquisam, propagam. O futuro é sempre minimalista, limpo, silencioso. Natureza é Recurso. Tecnologia é a meta a ser levada para onde pessoas ainda não a conhecem, e por isso não desfrutam do seu potencial. Estão atrasadas, ou, pelo menos, menos eficientes em produtividade do que poderiam ser. Acontece que precisamos de muitos recursos para suprir as necessidades criadas num mundo tecnológico e, agora, precisamos nos preocupar em sustentar esse binômio, ou melhor, nos sustentar ao modo moderno. Sustentabilidade e muitos empreendimento para tal. É um esforço geopolítico.
É um absurdo que tenhamos que mudar a energia se, tivermos que perder qualquer coisa! – Proclamam. É inconcebível qualquer fonte energética que não mantenha o ritmo econômico como a estabelecida pela queima de combustíveis fósseis e, desta forma, sem preservar o lucro, é uma crise sem soluções. Não há solução para sustentar o que vem sendo proposto a ser sustentado, uma relação de tecnologia que, ao subjugar a natureza em nome do progresso da humanidade, expande-se sobre ela e frustra-se com a limitação dessa expansão.
Essa faceta da relação entre Tecnologia e Natureza tratada acima, não esgota todas as maneiras da natureza se relacionar com a tecnologia, e não deveria ser tão poderosa quanto é: Quase que inquestionável, num meio acadêmico ocidental oriundo do pensamento colonial e imperialista, com reflexos em diversas disciplinas. Empurra-se qualquer perspectiva contrária para um espaço de misticismo, fantasia, da não ciência, de desumanidade, e com isso, uma série de ilegitimidades que vão do negacionismo científico à preconceitos severos como racismos e intolerâncias da tradição de centenas de povos originários. Há uma superioridade necessária no pensamento da dominação da natureza, como uma provação orgulhosa do antropocentrismo, dum iluminismo atrofiado na modernidade persistente no século XXI.
A existência deste binômio e de sua manutenção, seja na pesquisa acadêmica, no desenvolvimento de políticas públicas ou nas relações culturais de uma sociedade não foi e não é sinônimo de hegemonia permanente, nem na academia e tão pouco fora dela. A literatura acadêmica e a arte, os movimentos populares, algumas iniciativas nas políticas púbicas, têm na decolonialidade e em outras maneiras de experienciar a relação natureza e tecnologia, bem como natureza e sociedade e , natureza e cultura, um conjunto de abordagens e perspectivas crítica para compreender essas relações. Matizes incontáveis, com contextos tradicionais ou contemporâneos desobedientes, expressam, em múltiplas linguagens e sentidos, críticas a este pensamento que nos levou ao antropoceno.
Entretanto, criticar este binômio é tarefa difícil, mesmo quando de uma crítica feita com ímpeto global a partir do século XX – há mais de 60 anos. Num ambiente onde parte da fundação da modernidade solidifica-se por antagonias de poder entre dominante e dominável, propor desmantelamentos que não conservam a contraditória vontade humana de exercer alguma divindade por direito, é inconveniente, indesejável e recebida com postuladas censuras e ilegitimidades de diversos lados em torno da problemática do sustentável, de como nos relacionados as naturezas e as tecnologias – permeáveis por políticas e pela história cultural.
Como podemos perpetuar uma relação onde qualquer coisa viva é passível da análise imediata da qualidade de ser consumível? E quando inconsumível, removível? Se aves se agrupam aos milhares, como nós, em busca de refúgios de concreto, concluímos que as evitar em florestas de concreto é uma solução…a qual problema? A estética? Aos excrementos? As doenças – discursos que se mesclam aos princípios de sociedades xenofóbicas, temerosas das comunidades diversas. Todos os animais perdem, expulsam e liberam pedaços de si, elementos, mais uma vez, inúteis. Nossa pele cai ao chão, nossos lixos criam ilhas de problemas irresolutos década após década, no solo, no mar, em órbita terrestre. Ainda assim se evita conviver com algo além do prazer do consumismo a qualquer preço, com políticas de encarceramento para diversas espécies.
Assim como ‘mãe-natureza’ e sua virgindade é um romantismo atrelado ao conto do bom selvagem e outras distorções do pensamento colonial, a perspectiva de ‘Energia Limpa’ e ‘Energia Sustentável’ também são contos confundidos entre si e assim, convenientes aos meios de produção industrial, como tantos outros selos verdes e greenwashings contemporâneos. É sobre consumo, sobre uma maneira de estruturar a exploração do lucro a qualquer custo tanto quanto é sobre a mudança da matriz energética, e ainda assim, neste ano, discute-se a exploração de Petróleo na Amazônia em nome do crescimento econômico. Ou seja, distantes da condição de compreensão de que mudanças virão com perdas, das microescalas como na convivência da arquitetura urbana e a biodiversidade, as microescalas como a deliberada exploração daquilo que deve ser preservado.
O futuro já foi representado no cinema e na literatura como sempre minimalista, limpo, silencioso, uma visão particularmente hierárquica, racista e higienista do que poderia ser um século XXI e seguintes, propagada pelos antigos do primeiro mundo. No ano de 2023, o futuro imaginado num século anterior é muito mais emocional, acumulador, e diversificado em materialidade e imaterialidade – como nas redes sociais e suas culturas – mas, ainda escravocrata, como se pensava que seria. Permanece desigual. Direitos Humanos ainda são secundários, transfobias, xenofobias, opressões de classe são a realidade persistente da maior parte dos países incluindo o Brasil, recordista na violência contra pessoas trans, mulheres, indígenas. Recordes históricos contínuos também caracterizam nossa década de 2020 resultantes da intensificação das crises climáticas. Natureza numa agenda brasileira e global, hoje, ainda é recurso industrial.
Há esperança. A tecnologia não está visceralmente atrelada a indústria. As tecnologias são diversas. Não há solução para sustentar o que tem se tentado sustentar, uma relação de tecnologia que, ao subjugar a natureza em nome do progresso da humanidade, expande-se sobre ela e frustra-se com a limitação dessa expansão de sobreposição. Essa sobreposição é da própria natureza e da tecnologia em um solo comum, diferentemente de uma camada do problema atual do antropoceno.
Quando da transparência, aquilo que é visível em sua obscuridade, a função social, a arte enquanto resistência, luta, revolução e emoção, floresce e morre nas teorias da arte e da técnica, expressam-se sazonalmente na esfera pública, digital, ou material, física. Mais uma vez, a aparência dum capitalismo parece atrelada a algo ter uma funcionalidade reduzida ao produto, porém, negligenciar o potencial da organicidade do conhecimento, do povo, e da arte enquanto ações criativas coletivas que revolucionam, constroem símbolo e cultura, é subordinar natureza, arte e tecnologia, a uma aura servil domesticada, enquanto um movimento ardente que é a arte contemporânea brasileira, multimídia em visualidade, física, e digital ocupa os meios-ambientes em florestania e urbanidade – reinventadas ou coexistentes as nostalgias históricas da arte – mas não apenas da arte, mas das sociedades tecnológicas que jamais foram tão orgânicas em seus âmagos.

English Version

ORGANIC Manifesto

Written by  Vannie Aurin Pavelski da Gama, 2024.

Dominate nature. This premise is part of the foundations, sometimes explicit and sometimes implicit of modernity. Any rapprochement between human beings and nature is primitive, spiritual – and therefore, false – or of a romantic nature of the virgin mother nature. This, in turn, is presented as yet another female entity imprisoned and subjugated by her rebellion. Such an imposed perspective of nature is reflected in our urban creation. In urban environments, we are conditioned to indifference to nature and sensitivity. Plants are uprooted from the streets, century-old trees are destroyed – or pruned – on public roads, which hinder the busy walk through the city. Even within our own species, people in vulnerable situations are ignored, diverting attention from their existence to occupy ourselves with something said to be useful – a continuity of class domination and the domination of nature. We collect the leaves from these trees and throw them in the trash, without even giving them the option of rotting back into the soil. Useless flowers also go to the trash, when they are no longer slender to human senses, when they offend the sterile cleanliness of the avenues and sidewalks.
Part of the city’s architecture is oriented towards removing the apparent nuisances of nature, such as the addition of technologies to buildings in order to avoid the refuge of birds in their spaces, aesthetically characteristic of some space-time of urban geography – We do not allow them to adapt, just pushed extinction. We scare away small animals, which, contrary to the obsession with hygiene of a good human being, of a man, should generally be avoided because they are dangerous, after all, they are not sterilized and carry diseases. Avoided, eradicated, segregated. Filthy beings that, except when our slaves, perhaps, can adapt, when well domesticated, to the modern scenario. People are bestialized, animals are bestialized.
To what point in the existence of the biosphere can we force such barriers of modernity? Neo-imperialisms, neo-colonialisms, ‘works analogous to slavery’, – Modern slavery –, violence positioned as a hierarchy of necropolitics between peoples, ethnicities, genders and sexualities, environmental crises considered secondary to new territories to be explored, oil sucked from the veins of earth, as we burn on its surface. The warnings of science, art and social resistance are a frustrated comedy for the eyes of coal capitalism, of the remaining structures of the interests of the old wars, in ruins.
Prostration in the face of the need for systemic change in human societies in the face of themselves, and consequently the natures, policies, what creates and coexists with technologies and culture, must continue to be replaced by collective action, which remains the foundation of philosophical, artistic, activist, and environmental movements in modern history. In the ‘urban masses’ and in the forest masses, in the rural masses and in the digital masses, we give shape to the land of flesh that can, finally, compose the sphere of a viable future, that sustains what is sustainable instead of archaic fixed structures in the maintenance of social inequalities favorable to the strict economy for the profitable interests of large companies and warmongering states.
Let us think again about the issue of nature, this biosphere that we make up and with it, modernity and its hegemonic technologies. Here we find a binomial that constitutes knowledge that is either technologically deterministic or fictional, of a romantic and immaculate nature, creating an environment of unnecessary tension between us, human societies and our creations, and the ecological community of hundreds of thousands of species. An enlightenment of divine humanity is created and reinforced. From this myth we have already gathered enough problems to solve together.
Getting closer to nature does not delegitimize us as human beings. Being part of nature’s process does not make technologies inferior, even if it takes away their autonomy. Not perpetuating binomials between Nature and Technology and, further in its kaleidoscope, the relationship between Nature and Culture, neither technology nor culture regresses. But, certainly, looking at such possibilities requires abandoning Man’s dominance as an affirmative measure of his power over anything he deems a rightful resource. And this is not an inventive movement, nor is it counterintuitive or inhumane for hundreds of thousands of people who, in their different areas of experience, research, creation and action, relate to these binomials with mutual affection, responsibility and legitimacy. Having made these considerations, we can rewrite the beginning of this manifesto.
Living in natures. This experience is part of the foundations, sometimes explicit and sometimes implicit, of the ways of living possible in a Global South and in other societies, traditional or not, urban or not. Any rapprochement between human beings and nature is evident: we live under natural laws in community and environment. This relationship often expands to ancestral spiritualities, however, this relationship is not mandatory for living in nature. The romantic nature of the virgin mother nature is disregarded; Gaia is irreverent. The balance in an ecosystem is made up of cycles of life and death, of individual and collective interests, of dynamics of violence, losses and controls, and of symbiosis, of mutual dependencies, of mysteries and obscurities, apparent randomness and some catastrophes. Modernity continues in its continuous expansionist character of modernization, of the absolute expansion of industrialization, however, these automations must be revisited and questioned, instead of continually imposed through conservative policies of coal capitalism.
Before we disturb an ecosystem by exploiting and sanitizing species, let us remember: Trees are necessary, complex beings, contrary to the wishes of many botanists and flawed urban planning. Wood, together with the fire and the wheel, are laurels carried to the paleotechnician phase and, thus, the body, no longer being, is the raw material of modernity. We deprive any regeneration of nature of fauna and flora that is not profitable for us. Addicted consumers, users, we collect the leaves of these trees and throw them in the trash, as well as their flowers that can never decompose in the soil and return to the different cycles of which they are part. It will not feed the microfauna, after all, it is not our culture to understand any phenomena other than those that feed us directly in our needs created by giant corporations – these, which maintain slave labor around the world, thus maintaining low prices for the consumption of something with short useful life, but little reusable, or even not reusable at all.
In the manual of Brazilian trees by Lorenzi (1992), the result of a decade of research, with a record of 352 species of trees, in its preface, it addresses us to the content of the book, which although taxonomic, is ”a book of Trees is a book of poetry. To understand it, you need to listen to the poets who see, hear and feel them through mysterious and hidden senses.” So why would dead flowers be useful?
In the case of plants, trees, flowers and their seeds, let us return to the introduction by Lorenzi (1992), without numbering the pages prior to the following surgical and systematic content, which refers to the study of trees as important for the social historical issue of the Brazilian territory; for ecology, considering both the issue of Brazilian arboreal flora as being the most diverse in the world – and thus, maintaining complex ecological relationships in their biomes of origin – and the ecological awareness generated by studies of native flora, such as the importance of forests and forests to understand the continent’s hydrogeological dynamics and processes; for the economy in Brazil; and finally, important for the Brazilian cultural issue and history, given the relationship between society and plants grown in streets, squares, gardens and rural areas, in addition to the learning generated from them, the dynamics that are created between us and the trees, with non-human populations and communities, as well as the importance of trees for Brazilian birdlife – for the thousands of bird species in Brazil.
Is technology opposite to nature? Technology is the pinnacle of humanity’s progress, while nature is sacred, and must be submitted to man – research, propagate. The future is always minimalist, clean, silent. Nature is a Resource. Technology is the goal to be taken to places where people do not yet know it, and therefore do not enjoy its potential. They are behind, or at least less efficient in terms of productivity than they could be. It turns out that we need a lot of resources to meet the needs created in a technological world and, now, we need to worry about sustaining this binomial, or better yet, sustaining ourselves in the modern way. Sustainability and many ventures to this end. It is a geopolitical effort.
It is absurd that we must change our energy if we have to lose anything! – They proclaim. Any energy source that does not maintain the economic rhythm established by the burning of fossil fuels is inconceivable and, in this way, without preserving profits, it is a crisis without solutions. There is no solution to sustain what has been proposed to be sustained, a relationship of technology that, by subjugating nature in the name of humanity’s progress, expands upon it and is frustrated by the limitation of this expansion.
This facet of the relationship between Technology and Nature discussed above does not exhaust all the ways in which nature relates to technology, and should not be as powerful as it is: Almost unquestionable, in a Western academic environment originating from colonial and imperialist thinking, with reflections in various disciplines. Any contrary perspective is pushed into a space of mysticism, fantasy, non-science, inhumanity, and with that, a series of illegitimacies that range from scientific denialism to severe prejudices such as racism and intolerance of the tradition of hundreds of indigenous peoples. There is a necessary superiority in the thought of the domination of nature, as a proud ordeal of anthropocentrism, of an atrophied enlightenment in persistent modernity in the 21st century.
The existence of this binomial and its maintenance, whether in academic research, in the development of public policies or in the cultural relations of a society was not and is not synonymous with permanent hegemony, neither in academia nor outside it. Academic literature and art, popular movements, some initiatives in public policies, have in decoloniality and other ways of experiencing the relationship between nature and technology, as well as nature and society and nature and culture, a set of critical approaches and perspectives to understand these relationships. Countless nuances, with disobedient traditional or contemporary contexts, express, in multiple languages and meanings, criticisms of this thinking that led us to the anthropocene.
However, criticizing this binomial is a difficult task, even when criticizing it has been carried out with global momentum since the 20th century – more than 60 years ago. In an environment where part of the foundation of modernity is solidified by antagonism of power between the dominant and the dominant, proposing dismantling that does not preserve the contradictory human will to rightfully exercise some divinity is inconvenient, undesirable and received with postulated censorship and illegitimacy from different sides around the issue of sustainability, how nature and technology are related – permeated by policies and cultural history.
How can we perpetuate a relationship where any living thing is subject to immediate analysis for the quality of being consumable? And when inconsumable, removable? If birds gather in thousands, like us, in search of concrete refuges, we conclude that avoiding them in concrete forests is a solution… which problem? The aesthetics? To excrement? Diseases – discourses that mix with the principles of xenophobic societies, fearful of diverse communities. All animals lose, expel and release pieces of themselves, elements that are, once again, useless. Our skin falls to the ground, our waste creates islands of unresolved problems decade after decade, on the ground, at sea, in Earth orbit. Still, we avoid living with anything other than the pleasure of consumerism at any price, with incarceration policies for different species.
Just as ‘mother nature’ and her virginity is a romanticism linked to the tale of the noble savage and other distortions of colonial thought, the perspective of ‘Clean Energy’ and ‘Sustainable Energy’ are also tales confused with each other and thus convenient to the media of industrial production, like so many other contemporary green seals and greenwashings. It is about consumption, about a way of structuring the exploitation of profit at any cost as much as it is about changing the energy matrix, and yet, this year, the exploration of Oil in the Amazon in the name of economic growth is being discussed. In other words, far from the condition of understanding that changes will come with losses, from microscales as in the coexistence of urban architecture and biodiversity, microscales as the deliberate exploration of what must be preserved.
The future has already been represented in cinema and literature as always minimalist, clean, silent, a particularly hierarchical, racist and hygienist vision of what the 21st century and beyond could be, propagated by the ancients of the first world. In the year 2023, the future imagined in a previous century is much more emotional, accumulating, and diverse in materiality and immateriality – as in social networks and their cultures – but still slave-like, as was thought it would be. It remains uneven. Human rights are still secondary, transphobia, xenophobia, class oppression are the persistent reality of most countries, including Brazil, which holds the record for violence against trans people, women and indigenous people. Continued historical records also characterize our 2020s resulting from intensifying climate crises. Nature on a Brazilian and global agenda, today, is still an industrial resource.
There is hope. Technology is not viscerally linked to industry. The technologies are diverse. There is no solution to sustain what has been attempted to be sustained, a relationship of technology that, by subjugating nature in the name of humanity’s progress, expands upon it and is frustrated by the limitation of this overlapping expansion. This overlap is nature and technology itself on a common ground, unlike a layer of the current Anthropocene problem.
When transparency, what is visible in its obscurity, the social function, art as resistance, struggle, revolution and emotion, flourishes and dies in theories of art and technique, they are expressed seasonally in the public, digital, or material sphere, physical. Once again, the appearance of capitalism seems linked to something having a functionality reduced to the product, however, neglecting the potential of the organicity of knowledge, people, and art as collective creative actions that revolutionize, build symbol and culture, is to subordinate nature , art and technology, to a domesticated servile aura, while an ardent movement that is contemporary Brazilian art, multimedia in visuality, physical, and digital, occupies the environments of forestry (Florestania [Ailton Krenak]) and urbanity – reinvented or coexisting art historical nostalgias – but not just art, but technological societies that have never been so organic at their core.

Version Française

Manifesto Organique

Écrit par  Vannie Aurin Pavelski da Gama, 2024.

Dominez la nature. Ce postulat fait partie des fondements, tantôt explicites, tantôt implicites de la modernité. Tout rapprochement entre l’être humain et la nature est primitif, spirituel – et donc faux – ou de nature romantique de la vierge mère nature. Celle-ci, à son tour, est présentée comme une autre entité féminine emprisonnée et subjuguée par sa rébellion. Une telle perspective imposée de la nature se reflète dans notre création urbaine. En milieu urbain, nous sommes conditionnés à l’indifférence à l’égard de la nature et de la sensibilité. Les plantes sont arrachées dans les rues, les arbres centenaires sont détruits – ou élagués – sur la voie publique, ce qui gêne la circulation dans la ville. Même au sein de notre propre espèce, les personnes en situation de vulnérabilité sont ignorées, détournant l’attention de leur existence pour nous occuper de quelque chose que l’on dit utile : une continuité de la domination de classe et de la domination de la nature. Nous récupérons les feuilles de ces arbres et les jetons à la poubelle, sans même leur laisser la possibilité de pourrir dans le sol. Les fleurs inutiles vont aussi à la poubelle, lorsqu’elles ne sont plus élancées aux sens humains, lorsqu’elles offensent la propreté stérile des avenues et des trottoirs.
Une partie de l’architecture de la ville est orientée vers la suppression des nuisances apparentes de la nature, comme l’ajout de technologies aux bâtiments afin d’éviter le refuge des oiseaux dans leurs espaces, esthétiquement caractéristique de certains espace-temps de la géographie urbaine – Nous ne permettons pas à s’adapter, cela a simplement poussé l’extinction. On fait fuir les petits animaux qui, contrairement à l’obsession d’hygiène d’un bon être humain, d’un homme, devraient généralement être évités car ils sont dangereux, après tout, ils ne sont pas stérilisés et sont porteurs de maladies. Évité, éradiqué, séparé. Des êtres sales qui, sauf peut-être lorsque nos esclaves, peuvent s’adapter, s’ils sont bien domestiqués, au scénario moderne. Les gens sont bestialisés, les animaux sont bestialisés.
Jusqu’où peut-on, dans l’existence de la biosphère, repousser de telles barrières de modernité ? Néo-impérialismes, néocolonialismes, « œuvres analogues à l’esclavage », – esclavage moderne –, violences positionnées comme une hiérarchie de nécropolitiques entre peuples, ethnies, genres et sexualités, crises environnementales considérées comme secondaires par rapport à de nouveaux territoires à explorer, pétrole aspiré les veines de la terre, tandis que nous brûlons à sa surface. Les avertissements de la science, de l’art et de la résistance sociale sont une comédie frustrée aux yeux du capitalisme charbonnier, des structures restantes des intérêts des vieilles guerres, en ruines.
La prosternation face au besoin de changement systémique des sociétés humaines face à elles-mêmes, et par conséquent les natures, les politiques, ce qui crée et coexiste avec les technologies et la culture, doit continuer à être remplacé par l’action collective, qui reste le fondement de la philosophie, mouvements artistiques, activistes et environnementaux de l’histoire moderne. Dans les « masses urbaines » et dans les masses forestières, dans les masses rurales et dans les masses numériques, nous donnons forme à la terre de la chair qui peut enfin composer la sphère d’un avenir viable, qui soutient ce qui est durable au lieu de des structures figées archaïques dans le maintien des inégalités sociales favorables à l’économie stricte pour les intérêts profitables des grandes entreprises et des États bellicistes.
Repensons à la question de la nature, de cette biosphère que nous constituons et avec elle, la modernité et ses technologies hégémoniques. Nous trouvons ici un binôme qui constitue un savoir soit technologiquement déterministe, soit fictif, de nature romantique et immaculée, créant un environnement de tension inutile entre nous, les sociétés humaines et nos créations, et la communauté écologique de centaines de milliers d’espèces. Une illumination de l’humanité divine est créée et renforcée. De ce mythe, nous avons déjà rassemblé suffisamment de problèmes à résoudre ensemble.
Se rapprocher de la nature ne nous délégitime pas en tant qu’êtres humains. Faire partie du processus naturel ne rend pas les technologies inférieures, même si cela leur enlève leur autonomie. Ne perpétuant pas les binômes entre Nature et Technologie et, plus loin dans son kaléidoscope, la relation entre Nature et Culture, ni la technologie ni la culture ne régressent. Mais il est certain que pour envisager de telles possibilités, il faut abandonner la domination de l’homme comme mesure positive de son pouvoir sur tout ce qu’il considère comme une ressource légitime. Et ce n’est pas un mouvement inventif, ni contre-intuitif ou inhumain pour des centaines de milliers de personnes qui, dans leurs différents domaines d’expérience, de recherche, de création et d’action, se rapportent à ces binômes avec une affection mutuelle, une responsabilité et une légitimité. Ces considérations faites, nous pouvons réécrire le début de ce manifeste.
Vivre dans la nature. Cette expérience fait partie des fondements, parfois explicites et parfois implicites, des modes de vie possibles dans un Sud Global et dans d’autres sociétés, traditionnelles ou non, urbaines ou non. Tout rapprochement entre l’être humain et la nature est évident : nous vivons selon les lois naturelles de la communauté et de l’environnement. Cette relation s’étend souvent aux spiritualités ancestrales, cependant, cette relation n’est pas obligatoire pour vivre dans la nature. La nature romantique de la vierge mère nature est ignorée ; Gaia est irrévérencieuse. L’équilibre d’un écosystème est fait de cycles de vie et de mort, d’intérêts individuels et collectifs, de dynamiques de violence, de pertes et de contrôles, et de symbiose, de dépendances mutuelles, de mystères et d’obscurités, d’apparents hasards et de quelques catastrophes. La modernité continue dans son caractère expansionniste continu de modernisation, d’expansion absolue de l’industrialisation, cependant, ces automatisations doivent être revisitées et remises en question, au lieu d’être continuellement imposées par les politiques conservatrices du capitalisme charbonnier.
Avant de perturber un écosystème en exploitant et en assainissant des espèces, rappelons-le : les arbres sont des êtres nécessaires, complexes, contrairement aux vœux de nombreux botanistes et à un urbanisme défaillant. Le bois, avec le feu et la roue, sont des lauriers portés à la phase paléotechnicienne et, ainsi, le corps, n’étant plus, est la matière première de la modernité. Nous nous privons de toute régénération de la nature de la faune et de la flore qui ne nous serait pas rentable. Consommateurs accros, utilisateurs, nous récupérons les feuilles de ces arbres et les jetons à la poubelle, ainsi que leurs fleurs qui ne pourront jamais se décomposer dans le sol et retourner dans les différents cycles dont elles font partie. Cela ne nourrira pas la microfaune, après tout, ce n’est pas notre culture de comprendre d’autres phénomènes que ceux qui nous nourrissent directement dans nos besoins créés par des sociétés géantes – celles-ci, qui maintiennent le travail esclave dans le monde entier, maintenant ainsi des prix bas pour la consommation de quelque chose à durée de vie courte, mais peu réutilisable, voire pas réutilisable du tout.
Dans le manuel des arbres brésiliens de Lorenzi (1992), résultat d’une décennie de recherche, avec un registre de 352 espèces d’arbres, dans sa préface, il nous adresse au contenu du livre, qui bien que taxonomique, est ” un livre d’Arbres est un livre de poésie. Pour le comprendre, il faut écouter les poètes qui les voient, les entendent et les ressentent à travers des sens mystérieux et cachés.’’ Alors pourquoi les fleurs mortes seraient-elles utiles ?
La technologie est-elle contraire à la nature ? La technologie est le summum du progrès de l’humanité, tandis que la nature est sacrée et doit être soumise à l’homme – rechercher, propager. Le futur est toujours minimaliste, propre, silencieux. La nature est une ressource. La technologie est un objectif à atteindre là où les gens ne la connaissent pas encore et ne profitent donc pas de son potentiel. Ils sont en retard, ou du moins moins efficaces en termes de productivité qu’ils ne pourraient l’être. Il s’avère que nous avons besoin de beaucoup de ressources pour répondre aux besoins créés dans un monde technologique et maintenant, nous devons nous soucier de maintenir ce binôme, ou mieux encore, de nous maintenir de manière moderne. Durabilité et nombreuses initiatives à cette fin. C’est un effort géopolitique.
Il est absurde de devoir changer d’énergie si nous devons perdre quelque chose ! – Ils proclament. Toute source d’énergie qui ne maintient pas le rythme économique établi par la combustion des combustibles fossiles est inconcevable et, de cette manière, sans préserver les profits, c’est une crise sans solutions. Il n’existe pas de solution pour maintenir ce qui a été proposé, une relation technologique qui, en soumettant la nature au nom du progrès de l’humanité, la développe et est frustrée par la limitation de cette expansion.
Cette facette de la relation entre technologie et nature évoquée ci-dessus n’épuise pas toutes les manières dont la nature se rapporte à la technologie, et ne devrait pas être aussi puissante qu’elle l’est : presque incontestable, dans un environnement universitaire occidental issu d’une pensée coloniale et impérialiste, avec réflexions dans diverses disciplines. Toute perspective contraire est repoussée dans un espace de mysticisme, de fantaisie, de non-science, d’inhumanité et, avec cela, une série d’illégitimités qui vont du déni scientifique à de graves préjugés tels que le racisme et l’intolérance à l’égard des traditions de centaines de peuples autochtones. Il y a une supériorité nécessaire dans la pensée de la domination de la nature, comme épreuve fière de l’anthropocentrisme, d’une Lumière atrophiée dans la modernité persistante du XXIe siècle.
L’existence de ce binôme et son maintien, que ce soit dans la recherche universitaire, dans l’élaboration des politiques publiques ou dans les relations culturelles d’une société n’était pas et n’est pas synonyme d’hégémonie permanente, ni dans le monde universitaire ni en dehors. La littérature académique et l’art, les mouvements populaires, certaines initiatives de politiques publiques, ont dans la décolonialité et d’autres manières d’expérimenter la relation entre nature et technologie, ainsi qu’entre nature et société et nature et culture, un ensemble d’approches et de perspectives critiques. pour comprendre ces relations. D’innombrables nuances, dans des contextes traditionnels ou contemporains désobéissants, expriment, dans des langages et des sens multiples, des critiques à l’égard de cette pensée qui nous a conduit à l’anthropocène.
Cependant, critiquer ce binôme est une tâche difficile, même si sa critique a été menée avec un élan mondial depuis le 20e siècle – il y a plus de 60 ans. Dans un environnement où une partie des fondements de la modernité est solidifiée par l’antagonisme du pouvoir entre dominants et dominants, proposer un démantèlement qui ne préserve pas la volonté humaine contradictoire d’exercer légitimement une certaine divinité est peu pratique, indésirable et reçu avec des postulats de censure et d’illégitimité de la part de la société, différentes facettes autour de la question de la durabilité, de la façon dont la nature et la technologie sont liées – imprégnées par les politiques et l’histoire culturelle.
Comment pouvons-nous perpétuer une relation où tout être vivant est soumis à une analyse immédiate quant à sa qualité de consommable ? Et lorsqu’il est inconsommable, amovible ? Si les oiseaux se rassemblent par milliers, comme nous, à la recherche de refuges bétonnés, on en conclut que les éviter dans les forêts bétonnées est une solution… quel problème ? L’esthétique ? Aux excréments ? Maladies – des discours qui se mélangent aux principes des sociétés xénophobes, craintives envers les diverses communautés. Tous les animaux perdent, expulsent et libèrent des morceaux d’eux-mêmes, des éléments qui, une fois de plus, ne servent à rien. Notre peau tombe au sol, nos déchets créent des îlots de problèmes non résolus décennie après décennie, sur terre, en mer, en orbite terrestre. Pourtant, nous évitons de vivre avec autre chose que le plaisir du consumérisme à tout prix, avec des politiques d’incarcération pour différentes espèces.
Tout comme « mère nature » et sa virginité sont un romantisme lié au conte du noble sauvage et à d’autres distorsions de la pensée coloniale, les perspectives de « l’énergie propre » et de « l’énergie durable » sont également des récits confondus et donc faciles à comprendre les médias de production industrielle, comme tant d’autres sceaux verts et greenwashings contemporains. Il s’agit de consommation, de manière de structurer l’exploitation du profit à tout prix autant que de changer la matrice énergétique, et pourtant, cette année, on parle de l’exploration du pétrole en Amazonie au nom de la croissance économique. En d’autres termes, loin de la condition de comprendre que les changements s’accompagneront de pertes, des micro-échelles comme dans la coexistence de l’architecture urbaine et de la biodiversité, aux micro-échelles comme l’exploration délibérée de ce qui doit être préservé.
Le futur a déjà été représenté dans le cinéma et la littérature comme toujours minimaliste, épuré, silencieux, une vision particulièrement hiérarchique, raciste et hygiéniste de ce que pourrait être le 21ème siècle et au-delà, propagée par les anciens du premier monde. En 2023, l’avenir imaginé au siècle précédent est beaucoup plus émotionnel, accumulé et diversifié dans sa matérialité et son immatérialité – comme dans les réseaux sociaux et leurs cultures – mais toujours esclavagiste, comme on le pensait. Cela reste inégal. Les droits de l’homme sont encore secondaires, la transphobie, la xénophobie et l’oppression de classe sont la réalité persistante de la plupart des pays, y compris le Brésil, qui détient le record de violence contre les personnes trans, les femmes et les peuples autochtones. Des records historiques continus caractérisent également nos années 2020, résultant de l’intensification des crises climatiques. Aujourd’hui, la nature, à l’agenda brésilien et mondial, est encore une ressource industrielle.
Il y a de l’espoir. La technologie n’est pas viscéralement liée à l’industrie. Les technologies sont diverses. Il n’existe pas de solution pour maintenir ce que l’on a tenté de maintenir, une relation technologique qui, en soumettant la nature au nom du progrès de l’humanité, la développe et est frustrée par les limites de cette expansion qui se chevauche. Ce chevauchement représente la nature et la technologie elles-mêmes sur un terrain commun, contrairement à une couche du problème actuel de l’Anthropocène.
Lorsque la transparence, le visible dans son obscurité, la fonction sociale, l’art comme résistance, lutte, révolution et émotion, fleurissent et meurent dans les théories de l’art et de la technique, elles s’expriment de façon saisonnière dans la sphère publique, numérique ou matérielle, physique. Une fois de plus, l’apparition du capitalisme semble liée à quelque chose ayant une fonctionnalité réduite au produit, cependant, négliger le potentiel de l’organicité de la connaissance, des personnes et de l’art en tant qu’actions créatives collectives qui révolutionnent, construisent des symboles et de la culture, c’est subordonner la nature, art et technologie, à une aura servile domestiquée, tandis qu’un mouvement ardent qu’est l’art brésilien contemporain, multimédia en visualisation, physique et numérique, occupe les environnements de la foresterie (Florestania [Ailton Krenak]) et de l’urbanité – art historique réinventé ou coexistant des nostalgies – mais pas seulement de l’art, mais des sociétés technologiques qui n’ont jamais été aussi organiques dans leur essence.