Leão e o Unicórnio (2025)

Se em quase qualquer momento da minha vida, alguém me falasse que no final do ano de 2024, eu estaria fazendo uma residência artística em Paris e que escreveria uma ficção artística ambientada lá no ano seguinte, e pior, que ela seria publicada, eu com certeza perguntaria se eu finalmente dei um jeito na minha rotina, e com a resposta sendo ”não”, perguntaria se era então alguma piada. O problema não é nem estar em Paris novamente, afinal, a cidade das luzes foi o primeiro lugar que expus pessoalmente, lá no Louvre, aos meus 22 anos, em 2019.

Diria que o problema era o ”quando”. 2024 foi um ano bastante complexo, pessoalmente. Estava passando um momento sensível em todos os aspectos, pessoais e de sobrevivência. Foi o ano em que terminei o mestrado, ali no dia dos namorados brasileiro, em 12 de Junho. Depois de muitas mudanças súbitas, estava pintando avidamente, organizando os próximos passos. Engatei o mestrado no final da pandemia, em 2022, ”já não podendo esperar mais” os desfecho daqueles dois anos longos que tivemos. Diria que 2023 foi o primeiro ano ”de vida” após três anos bastante instáveis. Foi o ano da minha segunda individual, com a série ”Prólogos para Observações Orgânicas”, da ”Nova Flanerie” , do mural incompleto ”Bússola Sul” e do início da obra ”Diante do Quarto Estado”.

Porém, sem aviso, a residência em Paris aconteceu, me fazendo criar algumas das obras mais importantes até aquele momento, a série do ano, ”dreaming with memories – art of remembering” . Essas obras não são importantes por serem tecnicamente importantes, mas conceitualmente e processualmente. Lá, criei essas obras com total dedicação. Foi um exercício de disciplina, além de uma experiência coletiva única. Visitei a exposição surrealista do Pompidou e, bem, isso mudou bastante minha relação com arte em geral. Seja como for, voltei de Paris e embora a intenção fosse lidar com as coisas práticas da vida que não iam às mil maravilhas, simplesmente fui acometido pela necessidade de escrever uma ficção.

Se você é uma pessoa que conhece meu trabalho, provavelmente sabe que embora simbolista na pintura, eu não escrevo ficção. Escrevo teoria, trabalhos ”chatos” e pesquisas científicas no máximo ficcionais em suas esperanças sedimentares de serem qualquer coisa de minimamente úteis para a sociedade. Embora com amor pela leitura, não posso dizer que ser ”escritor” , no sentido mais ”literário” e menos no sentido ”pesquisador”, tenha sido até pensado. E como sempre, isso não aconteceu com uma previsibilidade. Diferente de ”O cultivar das imagens”, criado para ser ”o lugar onde posso errar” ”antes” de obras mais ”robustas”, ”Leão e o Unicórnio” começou com um arquivo em branco, de alguma dessas madrugadas onde os problemas mundanos nos deixam perambulando pela casa, em plena insônia. Escrevi coisa de 15 páginas e fui dormir. No dia seguinte, me dei conta que ”precisava” organizar aquilo, desenvolver uma ideia de fato. Nessas 15 páginas esses elementos fantásticos já davam as caras, e embora eu tivesse pensado em removê-los em um primeiro momento, acabei por acolhê-los, como um tipo de desafio pessoal em escrever algo totalmente fora das intenções mais comuns de até então ao mesmo tempo em que as temáticas filosóficas e críticas que estavam me rondando naqueles meses se mantivessem ali, presentes, ao seu modo. Foi assim que escrevendo mais ou menos umas 10 páginas por dia, terminei o ”Leão e o Unicórnio”.

O finalizei três dias antes do meu aniversário de 28 anos. Foi ” a última coisa que fiz aos 27”. Para mim isso foi simbólico, já que todo aniversário é um tipo de morte pessoal e, o fantástico, é um certo desafio para nós vivos realistas, não? Uma semana depois o manuscrito era aceito por uma editora bastante específica em seus títulos, das quais me parecia um lugar que acolheria um texto por vezes tão explicitamente crítico do que ”não é de bom tom” ser criticado na ampla literatura um tanto censurada dos anos de 2024, 2025, ou pelo menos não se você não é uma personalidade amplamente conhecida, e, bom, sou artista e pesquisador, e não escritor, então, quem seria eu, para falar ”daquele jeito”? Felizmente, com o acolhimento da Editora Libertinagem, a obra foi aceita mesmo que com suas particularidades em forma, ritmo e estrutura. Evidentemente que se era para escrever algo ficcional, que chamo de artístico-ficcional, sua estrutura não poderia ser simplesmente linear ou seguindo estruturas convencionais ou ”polidas” no sentido da escola literária da narrativa. É experimental, ao mesmo tempo que não o é. Bom, a obra estará disponível em breve, em Outubro de 2025, disponível no Brasil, em língua portuguesa na sua primeira edição.

Em breve, mais atualizações e links de acesso.